Cante sentido no comício em Serpa
Abandono não é sina
16 de Janeiro de 2016
O despovoamento do interior, cantado pelas Ceifeiras de Pias, não é uma fatalidade, afirmou Edgar Silva em Serpa, salientando que o PR «não pode virar as costas» ao problema e voltando a defender a concretização da regionalização.
A entrada do candidato no salão polivalente de Serpa, pouco depois das 16h45, suscitou incontidos aplausos e da plateia soltou-se a palavra de ordem «Abril presente, Edgar a Presidente», interrompendo por um instante a actuação do grupo coral feminino.
Pouco antes, a porta-voz tinha destacado que, «quando se quer muito uma coisa, a gente esforça-se, trabalha para isso e consegue-se», a propósito dos problemas de saúde que algumas das cantadeiras tiveram que ultrapassar para estarem com empenho nesta iniciativa.
Sem ter ouvido essa lição do querer e do poder, Edgar Silva começou a sua intervenção por referir que o cante alentejano, sendo há pouco mais de um ano património imaterial da humanidade, é expressão do sentir de um povo. Os versos cantados pelas Ceifeiras, sobre os montes que vão sendo abandonados ou a terra que foi deixada sem produzir, falam de uma realidade que «faz doer o coração», falam do despovoamento, que tanta devastação social arrasta em Portugal e, particularmente, no Alentejo.
Mas este «não é um destino a que estejamos condenados», «não pode ser fatalidade» esta «profunda injustiça que marca o País».
Edgar Silva criticou a política que tem sido caracterizada pelo encerramento de serviços públicos e pelo incumprimento das obrigações do Estado perante os cidadãos de todo o território nacional. Um Presidente da República «não pode virar costas» nem a esta realidade, nem a «este povo e esta região, com tantas potencialidades». Além de defender que muito poderia ser feito de positivo caso esta já fosse uma região administrativa, com os seus órgãos próprios eleitos, o candidato enalteceu o «trabalho quase heróico» das autarquias locais e dos eleitos que mais consequentemente se colocam do lado dos valores de Abril, constituindo «a linha avançada da defesa do povo, da identidade e da economia» a nível local e regional e «dando razões para o povo ter esperança e preservar a dignidade».
«Esta é a candidatura da força do povo, da força dos trabalhadores, da força da esperança, de quem não desiste e luta por uma vida melhor», realçou Edgar Silva, fazendo questão de lembrar que, ao contrário da fidalguia e da grande burguesia, nos momentos da história em que foram colocados em causa os interesses nacionais e a própria soberania, «foi o povo que encontrou água para gerar vida e potenciar a resistência».
Alertando que «não podemos deixar as nossas vidas contagiadas pelo atentismo dos “treinadores de bancada”», que comentam positivamente as posições e o projecto desta candidatura, mas ainda não decidiram ir votar no dia 24, Edgar Silva realçou que não há garantia de que possa haver uma segunda oportunidade e que «é agora que tudo se decide».
Nas eleições para Presidente da República, o voto em Edgar Silva conta para derrotar o candidato do PSD e do CDS, o candidato de Passos Coelho e Paulo Portas, e conta também para que os valores de Abril saiam vitoriosos.
O comício em Serpa reuniu cerca de 200 pessoas. A acompanhar Edgar Silva no palco, estiveram as mandatárias concelhia e distrital da candidatura, dirigentes comunistas locais e regionais, Manuela Cunha, dirigente do PEV e outros activistas ecologistas, o deputado João Ramos e João Dias Coelho, da Comissão Política do PCP.