O único em Moura e inspirado pelas flores da serra
Candidatura aberta com alicerces sólidos
16 de Janeiro de 2016
Ao entrar no Parque de Feiras e Exposições de Moura, para o jantar-convívio que encerrou um sábado no Alentejo profundo, Edgar Silva foi recebido pelo grupo coral feminino «Flores da Adiça», com uma moda a falar da orquídea selvagem e da rosa albardeira, que encantam quem sobe ao Talefe.
A cada uma das cantadeiras, Edgar agradeceu com dois beijos. Pouco depois, entre o final do jantar e o início do comício, o grupo voltou a actuar – mas antes foi feita uma especial saudação a elementos de outros grupos corais que também ali estavam. Com música tradicional, mas letras originais, cantou-se quase em pranto «os filhos do Alentejo foram p'rá emigração». Antes de se despedir, o grupo chamou Edgar Silva para lhe dar uma prenda.
O acto não pôde ser visto pela maior parte das mais de 250 pessoas que preencheram o salão, devido à «barreira» de jornalistas que se aproximou para o registar. Mas o candidato, depois de agradecer, afastou-se e exibiu para todos, com um largo sorriso, um prato de barro em que estava pintada uma daquelas flores raras da Serra da Adiça... que haveriam de surgir mais tarde, no discurso de Edgar.
Cerca das 21h30, foram apresentados os que se sentaram ao jantar na mesa do candidato à presidência: dirigentes concelhios e regionais do PCP, incluindo o deputado João Ramos e Miguel Madeira, e João Dias Coelho, da Comissão Política do Comité Central do Partido; Manuela Cunha, dirigente do Partido Ecologista «Os Verdes»; a mandatária distrital da candidatura, Maria da Fé Carvalho; e o mandatário concelhio, Santiago Macias.
Este, que é desde 2013 presidente da Câmara Municipal de Moura, fez uma breve intervenção, a anteceder o discurso do candidato, e começou por assinalar que Edgar Silva foi «o único que veio pisar estes terrenos» mais distantes de Lisboa.
Se fosse do BES...
Àqueles que tem ouvido referirem-se, por vezes em tom «achincalhante», ao facto de Edgar ter sido sacerdote, o mandatário respondeu que só ficaria preocupado se dissessem que foi da administração do BES, ou que foi secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e montou um banco como o BPN, ou que estaria metido em negócios ruinosos como aqueles em que o capital financeiro envolveu o nosso País.
As «flores raras da montanha, que importa preservar», surgiram logo no início da intervenção de Edgar Silva, que as comparou aos valores de Abril, «peças raras mas fundamentais» para o País.
Observou que a interioridade e os problemas sociais e económicos, como os que tinham sido abordados nas modas das «Flores da Adiça», não são fruto do acaso, «resultam de políticas que os governos têm vindo a impor» e que «têm que ser invertidas». Face a «um grave problema político, humano e social», como o despovoamento do interior, o PR «não pode não intervir». O Presidente, sublinhou, «tem que fazer da causa do povo a sua causa» e «este compromisso diferencia a minha e nossa candidatura».
Edgar Silva admitiu que «há uma experiência de descrença e desconfiança nessa possibilidade» e que o titular do mais alto cargo do Estado «tem recebido vaias, apupos, indignação do povo». Só que isso não sucede «por azia ou por mau feitio» das pessoas, antes por estas sentirem que «tinha que ser o Presidente da República a ouvir o clamor do povo».
Voto «fútil»
Ao apelar a que se distinga, no dia 24, o voto «útil» (aquele que serve os interesses e os direitos dos trabalhadores e do povo) do voto «fútil» (o voto de conveniência, de circunstância, de quem se resigna a um mal menor e aceita viver a vida por metade), enalteceu o povo do Alentejo, que «tem sentido de dignidade, honra e brio». «Aqui não há tradição de vergar a espinha, de resignação à vontade alheia» e não se encara as dificuldades com frases como «é a nossa cruz» ou «é a vida».
Edgar Silva voltou a considerar que o apoio do PCP «é o selo de garantia desta candidatura», mas frisou que esta «é aberta, tem apoios de outros democratas e patriotas com fome e sede de justiça, amantes da paz e da liberdade, amantes da democracia, ecologistas do PEV e outros, homens e mulheres de Abril». Os valores de Abril e o cumprimento da Constituição são «alicerces muito sólidos, que nos distinguem das outras candidaturas».
Até às eleições, apelou Edgar Silva, é preciso «intervir, esclarecer, mobilizar» mais e mais pessoas, fazer ver que «quantos mais votos houver em nós, menos possibilidade tem Marcelo Rebelo de Sousa de ser eleito» a 24 de Janeiro, porque para isso não lhe basta ser o mais votado, precisa de ter 50 por cento dos votos entrados nas urnas e mais um. Recordou, a propósito, que passaram há pouco cem dias desde as eleições de 4 de Outubro, em que PSD e CDS foram os mais votados, mas acabaram derrotados e destituídos do poder.