Visitas à PSA e à Yasaki Saltano
Presidente não pode ser indiferente à exploração
14 de Janeiro de 2016
O mundo do trabalho voltou hoje, quinta-feira, 14, a ser o terreno de campanha de Edgar Silva, que esteve ao início e a meio da tarde com trabalhadores da PSA e da Yasaki Saltano.
A troca de turno numa fábrica é um momento dado a correrias. Em Mangualde, distrito de Viseu, à porta de uma unidade produtiva da indústria automóvel, o candidato à Presidência chegou porém a tempo de receber o apoio de muitos dos que ali trabalham. Uns mais efusivos – conte comigo a 100 por cento, disse um jovem operário que como outras dezenas de camaradas recebeu o documento da campanha eleitoral entregue em mão por Edgar Silva –, outros mais resguardados, por feitio ou quiçá desconfortáveis pelo aparato de câmaras, microfones e repórteres.
Sem papas na língua falou o coordenador da Comissão de Trabalhadores na empresa e dirigente sindical, para quem é justo reconhecer quem defende os trabalhadores e, por isso, manifestou o seu apoio àquela candidatura.
A única que viu à porta de um local de trabalho, a contactar com os operários sem o objectivo de aparecer na fotografia, notou ainda, antes de acusar Marcelo Rebelo de Sousa de «ter muita televisão».
Mas não se ficou por aqui. Satisfazendo a curiosidade jornalística, Jorge Abreu, 39 anos, aproveitou a tribuna para denunciar o que se passa na empresa. Ali já laboraram cerca de 1300 trabalhadores. Hoje são cerca de 750. Ao nível da produtividade do trabalho, em pouco ou nada ficam a dever aos espanhóis ou aos franceses (onde o grupo tem fábricas semelhantes). No entanto, os salários são metade do que auferem uns, e um terço do que ganham os outros.
É evidente que o mesmo trabalho realizado por cerca de metade dos trabalhadores leva à imposição de «ritmos brutais, insustentáveis», ao que acresce a crescente precariedade. Na PSA em Mangualde, a imposição do banco de horas é um dos instrumentos de desregulação laboral de que se socorre o patronato para aplicar jornadas que impossibilitam a conciliação da vida laboral com a vida familiar. Outro instrumento é o cutelo da precariedade e da ameaça de deslocalização que pende permanentemente sobre a cabeça dos trabalhadores.
Escravatura do Século XXI
«Se isto não é escravatura, o que é então a escravatura?», questionou o já citado representante dos trabalhadores da PSA. Por sinal, presidente de uma junta de freguesia no concelho de Nelas eleito nas listas do PSD.
Para Edgar Silva, tal facto é digno de congratulação. Não porque a sua candidatura à Presidência da República tenha logrado um voto entre um autarca do PSD, mas porque um trabalhador e membro de uma comissão de trabalhadores reconheceu publicamente que esta é a candidatura com que se identifica quem trabalha.
O que importa ressaltar nesta iniciativa, prosseguiu Edgar Silva, é que a intensificação da exploração e a fragilidade dos vínculos laborais não é exclusivo de tal ou tal empresa. Por isso, sublinhou, é fundamental colocar na ordem do dia que «não estamos no tempo das praças de jorna», que «um trabalhador não é um escravo. Tem direitos de participação política, social e cultural», os quais «têm de ser garantidos e efectivados na vida concreta».
Ao final da tarde, já em Ovar, à porta da Yasaki Saltano, Edgar Silva e quem acompanhou a sua comitiva em mais um contacto com trabalhadores, pôde constatar a centralidade do tema que só este candidato tem trazido à corrida ao Palácio de Belém.
Na vida daqueles operários, quase tudo o que parece é de facto violento. Os ritmos de trabalho sempre maiores; o mês que sobeja ao salário de 600 euros; os contratos ao mês, por exemplo, ou a permanente ameaça de despedimento; os torniquetes apertados por onde têm de passar em passo acelerado não vá o transporte deixá-los apeados, acrescentando mais um obstáculo no cumprimento das mil e muitas tarefas quotidianas que ainda à por fazer.
Na Yasaki Saltano, muitos dos que procuravam contrariar o agravamento da exploração, foram despedidos. A delegada sindical que se manteve na fábrica após a (mais recente) vaga persecutória, é mudada constantemente de linha, relatou-nos um ex-trabalhador... despedido por protestar. E com toda a facilidade porque estava precário.
Tudo a corroborar a razão que tem Edgar Silva quando considerou que a desregulação das relações laborais deixam os trabalhadores vulneráveis à exploração e às represálias por «manifestarem opinião política» ou integrarem «iniciativas reivindicativas».
Pode então um Presidente da República que jura cumprir e fazer cumprir a Constituição ficar indiferente?